GOTA 91 ANOS: ATENDIMENTO HUMANIZADO 100% SUS
O ano de 1931 é conhecido como o início do “Horário de Verão” instituído pelo presidente Getúlio Vargas. Em Marília, o sol brilhou mais forte no dia 28 de julho quando um grupo de beneméritos lançou a pedra fundamental da Associação Feminina de Marília “Maternidade e Gota de Leite”. Após 91 anos, a entidade gravou seu nome na história da saúde pública ao dedicar 100 por cento do atendimento através do SUS.

Com a cidade ainda em formação, a professora Lyris de Negreiros Rocha se juntou às irmãs Carolina e Maria Luiza Moraes Barros para acolher as parturientes carentes e seus bebês. Após receberem noções de puericultura dos médicos Dr. Manhães e Dr. Carlos Moraes de Barros elas percorriam as casas em visita aos bebês que nasciam sem assistência.

Esta foi a semente da instituição cuja pedra fundamental foi lançada em 28 de julho de 1931 e que hoje atende pacientes de Marília e região com foco na humanização do parto graças à equipe multidisciplinar que tem uma peculiaridade: dezenas de anos de experiência. Um exemplo é a auxiliar de Enfermagem Ivanir Dallan de Melo, 68 anos sendo 44 deles dedicados à maternidade.

“É muito gratificante pra gente internar, dar toda a assistência, ver que correu tudo bem e as pacientes irem embora agradecidas”, comentou. Com muita história para contar, ela recordou o dia em que um rapaz chegou com uma foto dele ao nascer na Gota de Leite e pediu para a fazer uma fotografia do filho recém-nascido na mesma pose com a enfermeira. Para surpresa geral, a enfermeira da foto do pai era a mesma da foto do filho: a Dallan.

Nas quatro décadas dedicadas à maternidade, a auxiliar de Enfermagem assistiu até uma cerimônia diferente: “Um casal tinha programado o casamento para o sábado. Mas, o bebê resolveu nascer antes” e a saída foi realizar o casamento na Gota de Leite diante de alguns familiares.
Há 31 anos trabalhando na cozinha da maternidade, Elza Reis Fukai, 65 anos, integra a equipe de apoio responsável pelas refeições tão elogiadas pelo tempero caseiro. Ela contou que “na época das irmãs, tudo era muito difícil. A gente ia na feira pedir doações de verduras e legumes. Mas, nunca faltou nada”. Conforme disse, o cardápio elaborado pela nutricionista Regiane Albuquerque é balanceado e, mesmo com a alta dos preços dos alimentos, todos os dias as pacientes têm refeições nutritivas e variadas.
EVOLUÇÃO

Realizando, em média, 1.600 atendimentos ao mês, a maternidade segue o que preconiza o Ministério da Saúde que recomenda o parto vaginal. Em 2021, foram realizados 77 por cento de partos normais e apenas 23 por cento de cesáreas, informou a coordenadora dos Serviços de Enfermagem, Patrícia Truzzi Gilio.

Com o Centro de Parto Normal em que as pacientes ficam em suítes individuais com o acompanhante de sua escolha durante o pré-parto e parto, a Gota de Leite iniciou uma nova fase ao proporcionar segurança, conforto e acolhimento no momento mais especial da vida da mulher.

Segundo Patrícia Gilio, “olhando como um todo, a Gota foi evoluindo gradativamente, desde a infraestrutura física, até para a infraestrutura dos processos de trabalho. A estrutura física foi evoluindo de forma que a gente pudesse prestar uma assistência mais humanizada, com mais qualidade, com mais conforto para as pacientes e para as famílias que aqui vem. A gente assiste não só a gestante, mas a família como um todo”.

Ela prosseguiu afirmando que “quando cheguei, todas as enfermeiras já eram obstetrizes, já tinham a vivência para o olhar de assistência ao parto e isso nunca deixou de existir. Então, todas nós somos treinadas para fazer esse parto acontecer com mais humanização, com mais carinho e com o respeito que o momento merece e precisa”. Atualmente, são 10 enfermeiras obstetrizes.
Na área administrativa, Elizabeth Pereira Amorim está há 10 anos na instituição e acompanha o dia a dia da maternidade que enfrenta os desafios financeiros como a maior parte das entidades filantrópicas: “Sou grata a Deus pelo meu trabalho. Eu me sinto realizada e sempre me senti acolhida pelos colegas e pela direção. Eu sou apaixonada pelo que faço e isso me faz sentir bem motivada a buscar o melhor de mim”.

Há 25 anos, a Gota de Leite gerencia, também, os recursos humanos do Programa Estratégia Saúde da Família em convênio com o município. A enfermeira Simone de Carvalho Santos está na instituição há 19 anos e atua na linha de frente do RH: “A maternidade evoluiu em infraestrutura e RH, com toda equipe focada em prestar assistência de qualidade, sempre treinando para que essa assistência seja de qualidade”.
Simone acrescentou que “o trabalho no RH é muito gratificante. Estamos em contato com muitas pessoas, tanto funcionários como usuários, sempre prestando um serviço de qualidade em prol de Marília. Sinto uma enorme satisfação em fazer parte da família Gota de Leite, pois acredito na missão e nos valores aos quais a entidade se propõe a desenvolver para a comunidade”.

MISSÃO
Nos primórdios da entidade, as voluntárias faziam campanhas para manterem o atendimento com o apoio de alguns beneméritos, como o empresário Zezé Almeida, que fundou o Bradesco em Marília. Hoje, a Gota de Leite tem uma gestão profissional, mas a direção também tem à frente uma voluntária há 33 anos: a presidente Virgínia Maria Pradella Balloni.
Ela é a imagem pública da instituição onde cumpre expediente diário e não mede esforços para conquistar os recursos necessários, desde emendas parlamentares até campanhas que contam com o apoio da comunidade e dos clubes de serviço.
Embora voluntária, Virgínia Balloni se preparou para dirigir a instituição sendo pós-graduada em Administração Hospitalar, em Serviços de Saúde e em Saúde Pública. Também tem MBA em Gestão de Recursos Humanos e uma de suas caraterísticas é valorizar a equipe: “Nossa maternidade completa 91 anos e segue à risca tudo aquilo que foi passado pelas nossas fundadoras. Somos uma entidade filantrópica observando os mesmos preceitos que foram passados pelas nossas fundadoras. E um destaque extremamente importante são as nossas colaboradoras”.

Neste sentido, prosseguiu a presidente: “Nossa equipe é formada por pessoas que vestem a camisa, que amam a maternidade e que trabalham da melhor forma possível. É uma equipe de excelência tanto para a mãe quanto para o bebê”. E concluiu: “Representando a entidade, gostaria de agradecer muito a colaboração de todos porque se não existe uma equipe unida e eficaz não temos uma maternidade prestando um bom serviço para a população”.
*Reportagem de Célia Ribeiro para o Jornal da Manhã – Edição de 31/07/2022